Discurso no dia da formatura (31/JAN/97)

Caros amigos aqui presentes, boa noite. Permitam-me usar cinco minutos de sua atenção para um pequeno discurso que preparei.

É uma honra muito grande para mim participar desta cerimônia como paraninfo da turma de Ciência da Computação. De início, confesso que fiquei meio preocupado, pois não sabia o que dizer em meu discurso. Em geral, sempre que falo em público, as pessoas caem na risada, seja lá o que for que eu esteja dizendo. Apenas nos congressos, em palestras técnicas, é que não riem. Pensei então em dar uma palestra técnica aqui, mas não ia dar certo: o tempo é curto e eu não conseguiria passar das definições preliminares.

Após consultar vários amigos e amigas que já foram paraninfos e paraninfetas, decidi dar alguns conselhos aos formandos, contrariando tudo o que meus amigos sugeriram. É certo que conselho, se fosse bom, não seria de graça, como diz o velho ditado popular. Por isso mesmo, resolvi estabelecer um pequeno preço, realmente acessível, para meus conselhos: 5 reais cada. Eu acerto depois com a organização aqui. Aceito vale refeição.

O conselho número um refere-se aos desempregos que nossa profissão causa. Como sabemos, em várias fábricas, escritórios e firmas em geral não é raro hoje em dia decidir-se que um certo setor vai ser automatizado. Ou seja, computadores farão dali pra frente o serviço que era executado por seres humanos, gerando desemprego.

Ninguém gosta de desemprego. Sem dúvida é uma coisa a ser evitada. Mas, qual é a melhor maneira de evitá-lo neste caso? Certamente não é deixando de informatizar o setor. As máquinas são capazes de substitutir os humanos apenas em trabalhos rotineiros e cansativos. Trabalhos que, se a gente pensar bem, é um saco fazer mesmo. Qualquer ser humano tem um potencial muito grande, e pode ser reaproveitado na firma para fazer tarefas mais nobres. Tarefas que exigem carinho, amor, inteligência e coisas que nenhum computador tem, mesmo com bastante software instalado. Por exemplo, criar uma creche para o benefício dos funcionários da empresa.

Vocês, que irão trabalhar em computação, e talvez até ser donos de empresas, procurem pensar no destino daqueles que serão substituídos por computadores. Procurem influenciar para que sejam reaproveitados. Muitas vezes este reaproveitamento deverá passar por um período de reeducação, de aprendizado de novas tarefas, de reciclagem profissional. Tudo bem. Não sabemos que um dos problemas básicos do nosso país é educação? Quando se fala de falta de instrução, a gente logo pensa em crianças em idade escolar fora da escola, mas eu acho que o problema é muito maior. Falta também instrução para o profissional que deseja se aprimorar. Ajudem, então, na medida de suas forças, a suprir esta falha.

Conselho número dois: este diz respeito à Internet. Muito se tem falado ultimamente sobre censura na Internet. Cita-se, por exemplo, as páginas que mostram cenas de conteúdo sexual forte. Outro dia li no jornal que o grupo terrorista Tupac Amaru, que atacou uma embaixada (ou foi a casa de um embaixador?) no Peru e mantém até hoje reféns lá presos, possui uma página na rede, que por sinal é muito freqüentada. Grupos neo-nazistas também se aproveitam da visibilidade que a rede possibilita.

Apesar de eu ser contrário a pornografia, terrorismo e discriminação, não creio que a censura seja o caminho certo para combater estas manifestações. Se acreditamos realmente que algo seja errado, deve ser possível transmitir nossas convicções, através de argumentos, a qualquer outro ser humano. Mas este diálogo só pode ser verdadeiramente honesto na ausência completa de censura. Assim, conclamo todos vocês a lutarem contra a censura, em todas as oportunidades que tiverem.

Muito obrigado.