# Excerpts from the book # "A Língua Pirahã e a Teoria da Sintaxe - Descrição, perspectivas e teoria" # by Daniel Leonard Everett # Editora da UNICAMP, Campinas, SP (1991), 400pp. # Agradecimentos [...] Em segundo lugar, quero agradecer aos meus colegas do Summer Institute of Linguistics e da Unicamp por todo o apoio [...] Também quero dizer muito obrigado às seguintes pessoas: Carlos Franchi, Marcelo Dascal, Aryon Rodrigues, Frank Brandon, Des Derbyshire e Carlos Quicoli. Indiretamente, gostaria de agradecer pelo estímulo intelectual que recebi de Ken Pike e John Searle durante seus cursos. Naturalmente tenho que mencionar o próprio Noam Chomsky que tem me desafiado muito pela sua amizade pessoal, a sua visão crítica do mundo (e da política dos Estados Unidos) pelos seus comentários pessoais sobre várias partes desta tese, e por sua teoria que levantou a possibilidade de dar uma "espiada" dentro da caixa preta que chamamos de mente. Há um grupo de indivíduos que, pela sua dedicação ao crescimento espiritual do povo pirahã, tem sustentado minha família financeiramente durante os últimos oito anos. Um nome representativo é Gerry Silke. Aos outros, membros de várias igrejas espalhadas pelos Estados Unidos (e inclusive à nossa classe, na Igreja Guanabara aqui em Campinas) -- muito obrigado. Agora chegou a vez de agradecer as[sic] quatro pessoas que mais ajudaram no desenvolvimento desta tese: A Steve Sheldon, o diretor do Summer Institute of Linguistics, amigo e também linguista e tradutor entre os Pirahã - obrigado pelas horas e horas de editagem, por suas sugestões, por seu exemplo como lingüista e cristão. À[sic] Charlotte Galves, minha orientadora - obrigado por sua paciência, sua atitude tão simpática, suas sugestões tão boas, seu estímulo para as várias discussões, versões e revisões desta tese. À minha esposa, Keren - ela tem suportado um marido que quase nunca quer sair de casa, não conversa senão sobre linguística, que insiste em ter suas refeições na hora certa de modo a não interromper seu plano de trabalho, que vai para a cama quando a família já está dormindo há duas horas, porque estava escrevendo - obrigado. Obrigado também por suas inúmeras contribuições ao conteúdo desta tese. Ao meu senhor Jesus que me tocou há quatorze anos quando eu era viciado em "LSD", "speed", maconha e outros "divertimentos"; que deu à minha vida um propósito, uma direção... Meu Senhor e irmão - obrigado. ---------------------------------------------------------------------- Dedico este meu livro a Albert Tompkins Graham Filipenses 1:3 ---------------------------------------------------------------------- SUMÁRIO INTRODUÇÃO 13 PRIMEIRA PARTE: DESCRIÇÃO DA GRAMÁTICA DO PIRAHÃ 0. Introdução 19 I. A Sintaxe da sentença 1. A ordem dos constituintes 23 1.1 Introdução 23 1.2 Cláusulas transitivas 23 1.3 Cláusulas intransitivas 26 1.4 Cláusulas copulativas 27 1.5 Cláusulas equativas 29 1.6 Constituintes periféricos 30 1.7 Outros constituintes 34 2. Parataxe 34 [...] 3. Elipse 42 [...] 4. Reflexivos e recíprocos 46 [...] 5. Passivos 50 6. Causativos 51 7. Comparativos e equativos 53 [...] 8. Conjunção 57 [...] 9. Estratégias pragmáticas 64 [...] 10. Interrogativos 74 [...] 11. Imperativos 92 [...] 12. Negação 97 [...] 13. Anáfora 105 [...] 14. Cláusulas subordinadas 115 [...] II - A sintaxe locucional 15. Estrutura das locuções nominais 133 15.1 Marcação de caso 133 15.2 Expressão de posse 133 15.3 Modificadores 134 [...] 16. Sistema pronominal 146 [...] 17. Estrutura das locuções adposicionais 156 [...] 18. Estrutura verbal 159 [...] 19. Estrutura das locuções adjetivais 181 20. Estrutura das locuções adverbiais 182 21. Partículas 184 III - Resumos 22. A fonologia 195 22.1 Traços de palavras, locuções e sentenças 195 22.2 Traços silábicos 199 22.3 Segmentos fonéticos e ortografia 205 23. Morfologia 215 23.1 Palavras compostas 215 23.2 Classes básicas de palavras 217 24. Ideofones 217 SEGUNDA PARTE: PERSPECTIVAS E INVESTIGAÇÕES I - A TEORIA CHOMSKYANA E UMA DISCUSSÃO EPISTEMOLÓGICA 0. Introdução 225 [...] II - PARA UMA GRAMÁTICA FORMAL DO PIRAHÃ 0. Introdução 273 1. O componente de base de uma gramática do Pirahã 276 1.1 Introdução 276 1.2 Regras e categorias 279 1.3 O léxico 289 2. O componente transformacional 299 3. Subsistemas de princípios 299 3.1 Visão geral dos subsistemas 299 3.2 Implicações dos subsistemas para a gramática universal 300 3.3 A teoria da vinculação e a anáfora no pirahã 301 APÊNDICE I [Uma pequena lista de vocábulos] 345 APÊNDICE II [Lista parcial de termos da sintaxe transformacional] 359 BIBLIOGRAFIA 391 ---------------------------------------------------------------------- INTRODUÇÃO Tenho dois objetivos básicos neste trabalho. Primeiro, e mais importante, espero proporcionar uma descrição da gramática do pirahã que possa servir como ponto de partida para futuros estudos do presente autor ou de outros lingüistas. Essa descrição deverá providenciar uma documentação relativamente extensa desta língua, que nunca foi analisada tão detalhadamente. Em segundo lugar, gostaria de fazer uma aplicação da atual teoria chomskyana (seja qual for o rótulo usado - EST, REST, "Government-Binding", etc.) à lingua pirahã, numa tentativa de mostrar que ela é extremamente prometedora empírica e teoricamente como modelo da capacidade lingüística humana. Assim, tenho feito um estudo relativamente profundo do fenômeno de referência pronominal em pirahã no segundo capítulo da segunda parte deste trabalho. [...] Uma última observação: as pessoas interessadas na língua pirahã, mas não na teoria chomskiana, podem omitir a leitura dos dois últimos capítulos. [...] [NOTAS SOBRE A RE-EDIÇÃO COMO LIVRO] [...] Resisti a[sic] tentação de atualizar a discussão, apesar da evolução das minhas idéias sobre a língua pirahã e sua relevância teórica desde 1983, já que uma vez atualizada, esta tese não seria a mesma que defendi na UNICAMP, violando a intenção desta série. Porém, o leitor que desejar conhecer algo sobre minha perspectiva atual deverá ler as seguintes obras sobre o pirahã publicados[sic] desde 1983: 1984 "Clitic doubling and morphological chains in Pirahã," in D. Derbyshire (ed.), _Workpapers of the Summer Insistute or Linguistics -- University of North Dakota 20_, SIL, Dallas, pp 91--130. 1984 "Syllable Onsets and Stress Placement in Pirahã", In: M. Westcoat et al. (eds.), _Proceedings of the West Coast Conference on Formal Linguistics, III_, Stanford Linguistics Association, Stanford, pp. 105--117 (com Keren Everett). 1984 "On the relevance of Syllable Onsets to Stress Placement," Linguistic Inquiry 15_, 705--711 (com Keren Everett). 1985 "Syllable Weight, Sloppy Phonemes, and Channels in Pirahã Discourse," in: _Proceedings of the Berkeley Linguistics Society 11_, pp 408--417. 1985 "The Parametrization of Nominal Clitics in Universal Grammar," _GLOW Newsletter_, February, pp 36--38. 1986 "Pirahã Clitic Doubling and the Parametrization of Nominal Clitics," in _MIT Working Papers in Linguistics 8_, pp 85--127. 1987 "Pirahã Clitic Doubling," _Natural Language and Linguistic Theory 5:2_. A sair "Ternarity and Multiple Obligatory branching Constituents in Pirahã Phonology," _Natural Language and Linguistic Theory_. Daniel Everett Porto Velho Fevereiro, 1987 ---------------------------------------------------------------------- PRMEIRA PARTE A Gramática do Pirahã 0. Introdução A língua pirahã é membro da famíla mura, a qual incluía os dialetos (agora provavelmente extintos) bohurá, yaháhi, mura, e, possivelmente, torá (Loukotka 1968:95,96). Esta língua é geralmente chamada de mura-pirahã na literatura lingüística. Evito aqui uso deste termo maior porque ele obscurece a relação entre a família lingüística (mura) e a língua específica (pirahã). Esta decisão reflete, também, a preferência de outros lingüistas especializados em línguas ameríndias (Aryon Rodrigues, comunicação pessoal). Embora trabalhos anteriores tenham colocado a família mura no macro-filo chibcha (Greenberg 1960), esta classificação parece precária e prefiro não especular sobre sua afiliação genética até ter mais dados de natureza comparativa. O pirahã é falado por aproximadamente cento e dez indivíduos do rio Muci, Amazonas. O povo é quase cem por cento monolíngüe e, embora tenha contato freqüente com comerciantes, seringueiros, etc., é, na sua maior parte, não aculturado na sociedade e cultura brasileira. Tecnologicamente, os pirahã mantém uma existência extremamente primitiva: usam poucas ferramentas além do arco e flecha, e compram cestas simples de alumínio de comerciantes. Há dois povoados dos pirahã, os quais ficam a mais ou menos cento e cinqüenta quilômetros um do outro (divididos pelo rio). A aldeia onde tem sido realizada a pesquisa lingüística é relativamente a mais aculturada, sendo localizada perto da boca do rio e, portanto, tem mais contato com pessoas alheias. O grupo rio acima tende a rejeitar a maioria dos aspectos da cultura alheia e é, geralmente, hostil a estrangeiros. Apesar de serem capazes de fabricar vários tipos de artesanato e ferramentas, ambos os grupos preferem viver da maneira mais simples possível, pedindo artefatos aos comerciantes e aos outros, ao invés de fabricá-los eles mesmos. A pesquisa em que se baseia o presente estudo foi realizada de janeiro a março de 1979 e de abril a dezembro de 1980. Outros estudos foram feitos em várias ocasiões (por um total de quatro meses) com a ajuda de informantes pirahã fora da aldeia. A rotina normal durante a pesquisa era de duas horas por dia de elicitação, três horas de análise e arquivamento dos dados, e de três a cinco horas de conversação com os pirahã em várias situações -- "elicitação perambulatória". Ao todo, o presente autor tem tido aproximadamente quatoze meses de contato intensivo com os pirahã. Vários outros pesquisadores, porém, têm contribuído de modo importante à descrição apresentada neste capítulo. Gostaria de agrdecer a Arlo e Vi Heinrichs, Steve e Linda Sheldon e à minha esposa Keren por toda sua ajuda. Keren Everett (KE) contribuiu muito às análises da morfologia verbal e de tom. Steve Sheldon (SS) tem contribuído de uma maneira ou de outra em quase todas as seções desta parte. Toda a responsabilidade de quaiquer erros, porém, é do autor. ----------------------------------------------------------------------