EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA EM SP São Paulo, o estado mais rico do Brasil, é um dos piores (senão o pior) em desempenho dos alunos do ensino médio. Esse fato paradoxal tem uma explicação simple e óbvia: quinze anos de governo tucano. A política tucana para a educação pública é explícita: educação é um produto comercial, que deve ser feito para dar lucro. Educação de qualidade é por definição a das escolas privadas, e quem quer ter tem pagar por ela. Educação pública é um desperdício de dinheiro, seus professores são parasitas do estado, e seus alunos são casos perdidos que só servem para cortar cana mesmo. O objetivo da escola pública dever ser dar um diploma para todo mundo (para inflar as estatísticas) e não ensinar nada (para não roubar mercado das escolas pariculares). Limos recentemente na coluna "Tendências e Debates" da Folha de São Paulo que quase 50% dos alunos da 5a.série no Estado são essencialmente analfabetos. E isso é o que qualquer professor de ensino médio está cansado de saber. O articulista, numa tentativa heróica de defender o governo, vê nesse número uma prova do acerto da política de eliminar reprovações, introduzida (ditatorialmente, como é hábito entre os herdeiros da dita cuja) por Paulo Renato de Souza quando ministro da educação de FHC. Argumenta o autor que, no sistema antigo, esses 50% estariam fora da escola e portanto condenados a ficar à margem da sociedade etc. e tal. Mas nenhum sofisma pode esconder a magnitude do estrago. Um aluno que chega analfabeto à quinta série será incapaz de aprender qualquer outra coisa na escola, só vai fazer bagunça (e todos eles fazem). Quando esse aluno vier a receber o diploma de colegial (e todos eles vão) ele ainda não vai saber ler nem escrever. Os tucanos terão assim conseguido um país sem igual no mundo: onde 90% da população tem escolaridade de segundo grau completo, e a taxa de analfabetismo é de 50%. A política de não reprovação poderia até fazer sentido se houvesse algum outro mecanismo ou incentivo para garantir que todos os alunos que entram em uma série tem preparo suficiente para aproveitar as aulas da mesma. Por exemplo, alunos que não passam nas provas poderiam ter menos feriados e atividades recreativas e teriam que assistir mais aulas, até conseguir passar. Mas não é essa a política tucana. Escolas e professores que reprovam alunos, mesmo os que não aprenderam absolutamente nada, são punidos de várias maneiras. A "geração Paulo Renato", de analfabetos com diploma, está chegando agora à porta das universidades e do mercado de trabalho. Nos nossos vestibulares estamos começando a sentir o drama. Recentemente tive duas experiências que não me lembro de nunca ter tido: caixeiros de shopping não conseguem fazer a conta do troco --- nem mesmo com calculadora! O dano que a política de não-reprovação já causou a este país é muito pior que os efeitos do crack, aids, secas e enchentes juntas. Até mesmo o Plano Collor, por mais traumático que tenha sido, teve seus danos reparados em poucos anos; enquanto que as consequências do Plano Paulo Renato vão ferrar com este país pelos próximos 40 anos --- mesmo que, por algum milagre, nos livrarmos hoje dessa herança maldita. # Last edited on 2010-10-05 13:10:25 by stolfi