Acredito que a maior contribuição, de longe, que uma universidade pode dar à sociedade --- e a única razão pela qual a sociedade concorda em nos sustentar --- é a formação de profissionais competentes, desde técnicos de nível superor a pesquisadores de nível internacional. Apesar das retóricas que gostamos de ouvir e que escrevemos nos nossos estatutos, para aqueles que pagam nossos salários as demais atividades --- incusive pesquisa --- não são fins, mas apenas meios. Agumas dessas atividades podem até ser sub-produtos de valor para a sociedade; mas, objetivamente, se fosse só por elas a sociedade estaria fazendo um péssimo negócio. É por essa razão que vejo com alarme o progressivo desinteresse de nossas administrações com *a* função principal da universidade, e a dispersão de seus recursos financeiros, territoriais e humanos em atividades e projetos que não tem nada a ver com ela. Com uma única notável exceção, a UNICAMP não aumentou suas vagas nos últimos dez anos. O número de doutores e mestres formados, que cresceu está caíndo desde 2008. Uma das questões mais perguntadas e debatidas nesta campanha tem sido a recuperação do papel de liderança nacional da UNICAMP. É consenso geral que a UNICAMP perdeu esse papel nas últimas décadas. Porque? Receio que a explicação mais simples e óbvia seja a correta: não temos nada a ensinar ao país. Pelo contrário, enquanto o país evoluiu imensamente nos últimos dez anos, na UNICAMP (ou talvez todas as estaduais paulistas) a concepção de universidade continua sendo a mesma de 40 anos atrás (para não dizer 400 anos atrás): uma escola de luxo para os filhos dos nobres. Sem dúvida, há muitos docentes aqui (especialmente jovens) que não compartilham dessa visão. Sem dúvida, essa visão hoje é em boa parte uma ilusão. Mas é sensível, inclusive nos discursos de vários candidatos, que a "liderança" da UNICAMP ainda tem o mesmo plano estratégico de 30 anos atrás: nós colhemos a nata da nata do tacho dos jovens que saem do colegial, gastamos um bilhão por ano ensinando esses e o resto ------- Quero também manifestar meu apoio enfático à campanha dos Profs. Tadeu e Crósta para a Reitoria da UNICAMP. Para minha grande sorte, o mandato do Prof. Tadeu como Reitor coincidiu quase que perfeitamente com meu mandato como diretor do Instituto de Computação. Nesses quatro anos pude apreciar suas qualidades de liderança e sua preocupação com a missão primordial da Universidade. Quanto à liderança, o Prof. Tadeu tem uma capacidade incomum para conciliação e formação de consensos através do diálogo. Em todos os colegiados e comissões de que participei como diretor, nunca senti qualquer pressão para apoiar propostas da Reitoria, ou constrangimento em manifestar minha opinião, por incômda que fosse. Acredito que, dentre os candidatos nesta consulta, ele é o que tem mais chances de conseguir reestabelecer a harmonia e confiança entre os vários setores da UNICAMP, e reconstruir a sintonia entre as universidades paulistas sobre as rínas do CRUESP. Foi também durante a gestão do Prof. Tadeu que esta universidade começou a fazer seu planejamento estratégico de forma transparente e consensual, através da COPEI e no CONSU; iniciativa que infelizmente foi abandonada pela administração seguinte. No meu entender, liderança não é colocar as pessoas num caminhão fechado, como gado numa fazenda, e levá-las para onde der na telha. É saber convencer as pessoas a querer ir, por sua própria vontade, na direção certa; e essa é uma qualidade que distingue o Prof. Tadeu de seus concorrentes. Quanto à nossa missão, é com grande preocupação que vejo a UNICAMP dispersando seus recursos territoriais, financeiros e humanos em projetos e atividades que pouco ou nada contribuem para sua atividade principa. Retórica à parte, a contribuição mais valiosa que a universidade dá para a sociedade, de longe, é a formação de profissionais competentes, desde técnicos de nível superior até pesquisadores de nível internacional. Todo o resto --- pesquisa inclusive --- não é fim, mas apenas meio. Quando muito, pesquisa e serviços comunitários são um sub-produto de algum valor, mas que por si não justificam nem uma fração do orçamento que recebemos. Portanto, preocupa-me o fato de que nos últimos dez anos (com uma única exceção) a UNICAMP não aumentou suas vagas no vestibular; e que nos últimos quatro anos o número de doutores formados por ano foi menor que o total de 2005, e o número de diplomados na graduação *caiu* em quase 20%. É com alarme que vi em um ano serem erguidos dezenas de esqueletos de concreto, destinados a projetos que não tem nada a ver com sua missão primordial e que inevitavelmente vão desviar dezenas de docentes das atividades de ensino. Se persistirmos nesse rumo, não vejo como poderemos continuar justificando nossa existência perante à sociedade. Tem-se discutido muito nesta campanha sobre as acões de "inclusão social", mas no fundo são paliativos que tiram vagas de seis para dar a meia-dúzia, e não fazem nada para resolver o problema básico da carência de vagas nas universidades. Se perdemos nosso papel de liderança nacional na educação superior, é também por isso: enquanto nos últimos dez anos o país se convenceu de que é preciso triplicar o número de vagas no ensino superior, nós continuamos insistindo no modelo de universidade de 30 (ou 300) anos atrás: nós colhemos a nata da nata dos egressos do colegial, gastamos 1,5 bilhão por ano com eles, e o resto que se dane. Por esse motivo, creio que a construção do campus de Limeira foi a única contribuição significativa da UNICAMP à sociedade nos últimos dez ou vinte anos. Embora não se possa negar a atuação do Prof. De Decca e outros nesse projeto, é certo que ele não teria acontecido sem o empenho do Prof. Tadeu, e sua habilidade de nos persuadir a fazer o que é bom para todos. É lamentável que, depois de sua saída, a administração tenha abandonado esse projeto e tomado o rumo oposto. Todos os discursos bonitos sobre empenho com ensino são negados por esse simples fato. Finalmente queria também afirmar minha confiança na habilidade administrativa dessa chapa. Tanto o Prof. José Tadeu quanto o Prof. Álvaro Crósta tem experiência substancial e positiva na administração da Universidade, e seu compromisso *comprovado* (e não apenas prometido) com transparência e equanimidade. Aliás, essa é outra das qualidades do Prof. Tadeu que pude apreciar durante minha passagem pelo CONSU, e que infelizmente parece ser bastante rara.