Last edited on 2009-09-04 17:57:56 by stolfilocal A decadência do IC Na verdade, o IC já estava "mortuus in anima" mesmo antes de virar Instituto. Talvez os novos membros não percebam isso; para mim, que presenciei de camarote a juventude da computação brasileira na década de 1970, não há comparação entre os líderes e departamentos de outrora e os de hoje --- mesmo, ou especialmente, quando se trata das mesmas pessoas! Naquela época, a questão que estava na cabeça de todos, independentemente de crenças políticas, era "o que nós podemos fazer pelo país?" Há muito tempo que ninguém no IC pensa mais nisso. Desde que cheguei aqui, a pergunta que ouço a toda hora é, "como posso tirar proveito da universidade?". Há uma convicção geralizada e profunda de que a missão do Instituto (e a obrigação do Diretor) é apenas cuidar dos interesses pessoais dos seus docentes. Em algum momento entre 1975 e 1995, o DCC/IC caiu em um buraco negro, uma singular singularidade do espaço-tempo que nos separou do universo real e da consciência de nossa missão. Há talvez uns quinze anos que estamos à deriva em uma bolha de egocentrismo: em qualquer direção que olhamos, tudo o que conseguimos enxergar é nosso próprio umbigo. (E ainda há quem se vanglorie disso!) Na verdade, a criação do Instituto também foi um sintoma dessa decadência. Ouvi uma ou duas desculpas para justificar nossa saída do IMECC, e consigo desconfiar de uns dois ou três motivos reais. Nenhum deles tem nada a ver com nossa missão essencial de servir o país. A emancipação do IC foi construída exclusivamente sobre um único pronome, "nós". O que foi que fizemos? Para quem acha que estou exagerando, vamos tentar fazer uma contabilidade dos 13 anos do Instituto. Primeiro, nossa emancipação implicou na contratação de uma dezena de funcionários não-docentes (ATU, assistente de ATU, secretária de Diretor, Secretários de Graduação e Pós Graduação, Pessoal, Financeiro, Engenheiro de Manutenção, etc.) e criação de vários cargos gratificados (diretor e vice, dois chefes de departamento, dois coordenadores de curso) --- cargos esses que não seriam necessários se tivéssemos continuado como departamento. Sem contar que a carga administrativa de nossos docentes aumentou brutalmente, dentro e fora do IC. Os salários e gratificações acima devem somar mais de R$ 500,000 por ano. Portanto, nesses 13 anos, nossa emancipação custou à universidade mais de 6 milhões de reais, calculando por baixo. Somados aos 3 milhões que ganhamos graças ao Hermano, seriam mais que suficientes para construir o IC-4 completo --- aulas, docentes, labs, auditório, marquises e rampas, e até o salão de dança e o pátio com paineira e cascatinha. Mas o que a universidade recebeu em troca desses 6 milhões? *Nada.* Nesses 13 anos desde que viramos Instituto, não fizemos nada pela universidade que justificasse nossa emancipação. Continuamos oferecendo os mesmos 1.5 cursos de graduação, com os mesmos currículos obsoletos e abaixo dos padrões, e com o mesmo número de vagas. Nosso programa de Pós-Graduação continua o mesmo, sem áreas de concentração e com a mesma nota 5. Nossos alunos continuam tendo aulas no básico, até o último ano. Até nossos times na maratona continuam ficando só no "quase". Estamos talvez dando mais aulas de serviço; mas esse aumento obviamente não aconteceu por nossa vontade, e está sendo atendido por PEDs --- cujo salário não sai do orçamento do IC, e não está contado nos 6 milhões acima. Estamos talvez formando mais mestres e doutores, mas isso se deve aos docentes individualmente (especialmente os novos), e não a alguma ação institucional. Em suma, não fizemos nada como Instituto que não teríamos feito se tivéssemos continuado como Departamento. Uma das minhas muitas frustrações é que, por mais que cutucasse e puxasse, não consegui fazer com que o Instituto levasse a sério o seu planejamento estratégico. A muito custo, a Congregação acabou aprovando a reforma dos currículos e um aumento modesto de vagas; mas mesmo esses pequenos passos já foram sumariamente postos de lado pela Diretoria, atropelados pelo projeto de sede nova. Nestes treze anos, os únicos projetos de médio ou longo prazo que o Instituto conseguiu elaborar foram a Festa dos 30 Anos, a Festa dos 35 Anos, e a Festa dos 40 Anos. Aliás, uma vez que essas festas comemoram o início dos cursos, e não a criação do Instituto, elas também são atividades que teríamos feito tão bem como Departamento quanto fizemos como Instituto.